A Descoberta Arqueológica Surpreendente
Uma recente descoberta no santuário de Tel Arad, em Israel, trouxe à tona uma prática religiosa única, que estava oculta por milhares de anos. Durante escavações realizadas na década de 1960, arqueólogos encontraram um altar de calcário que, até então, não havia sido completamente compreendido. Recentemente, análises modernas revelaram algo surpreendente: o uso de cannabis, misturada com esterco de animais, em rituais religiosos. Este é o primeiro registro conhecido de uso ritualístico de cannabis no antigo Oriente Próximo, oferecendo uma nova perspectiva sobre as práticas espirituais de Judá na Idade do Ferro.
O Contexto Histórico do Santuário de Tel Arad
O santuário de Tel Arad foi escavado em 1962 pelo arqueólogo Yohanan Aharoni, que buscava entender a cultura e os rituais de Judá. Ao longo de cinco anos, ele e sua equipe descobriram diversos artefatos importantes, como ostracas (pedras com inscrições) e as ruínas de duas fortalezas que protegiam a fronteira sul do Reino de Judá. Entre esses achados, um altar de calcário se destacou, mas os resíduos encontrados nele não puderam ser completamente identificados até recentemente.
A partir de novas análises, foi possível detectar a presença de cannabis, o que levantou questões sobre o papel dessa planta nos rituais religiosos da época. A descoberta sugere que o santuário era um local onde práticas religiosas importantes eram realizadas, e que o uso de substâncias alucinógenas poderia ser parte desses rituais.
Museu de Israel A cannabis foi misturada com esterco animal para queimar a uma temperatura mais baixa, assim mais lenta, presumivelmente para durar a duração do rito religioso.
A Cannabis e o Processo Ritualístico
De acordo com o estudo publicado no Jornal do Instituto de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv, a cannabis encontrada no altar foi misturada com esterco de animais para ser queimada a uma temperatura mais baixa, permitindo que a fumaça durasse por mais tempo. Esse processo visava criar um ambiente psicoativo, possivelmente para facilitar estados de êxtase religiosa durante os rituais. A presença de incenso em outro altar próximo, que também foi usado em práticas cultuais, ajudava a intensificar a experiência sensorial.
A utilização de substâncias psicoativas em rituais religiosos não era incomum em diversas culturas ao redor do mundo. No entanto, a descoberta de cannabis em um santuário oficial de Judá é inédita e desafia as noções tradicionais sobre as práticas espirituais na antiga Israel. O principal autor do estudo, Eran Arie, do Museu de Israel, afirma que o uso da cannabis desempenhava um papel central nos rituais realizados no santuário de Tel Arad.
A Importância do Incenso e a Relevância da Cannabis
Na Bíblia, o incenso é frequentemente descrito como um item de grande valor, comparável ao de ouro ou joias preciosas. O incenso encontrado em Tel Arad provavelmente tinha um significado simbólico profundo, sendo utilizado para agradar a divindade e criar um ambiente ritualístico. A adição de cannabis a essa mistura de resinas e gorduras animais revela uma dimensão nova e intrigante nas práticas de culto, sugerindo que o ritual religioso de Judá pode ter incluído elementos mais complexos do que se imaginava.
A cannabis encontrada em Tel Arad possuía tetra-hidrocanabinol (THC) suficiente para ter efeitos psicoativos. Isso significa que, ao inalar a fumaça, os participantes poderiam ter experimentado estados alterados de consciência, algo comum em muitos rituais religiosos antigos. Essa prática alucinógena, embora conhecida em outras culturas, é uma novidade para o estudo das práticas religiosas de Judá.
Domínio público. O santuário “Santo dos Santos”, como retratado na Bíblia de Holman de 1890.
O Papel das Rotações Comerciais na Introdução da Cannabis
Embora não se saiba ao certo como a cannabis chegou ao santuário de Tel Arad, há indícios de que ela poderia ter sido trazida por rotas comerciais antigas. O arqueobotânico Robert Spengler sugere que as primeiras rotas comerciais da Rota da Seda, que ligavam a Ásia Central e Oriental ao Oriente Médio, podem ter sido responsáveis pela introdução de cannabis na região. Essa teoria é reforçada pela presença de outras mercadorias valiosas que circulavam na região, como mirra e incenso.
A descoberta também destaca como as práticas religiosas eram influenciadas por fatores externos, como o comércio e a troca cultural. Embora o uso de cannabis seja uma novidade para o estudo das práticas religiosas de Judá, ele pode ser parte de um contexto cultural mais amplo, no qual diferentes povos e tradições compartilhavam práticas ritualísticas semelhantes.
Museu de Israel O incenso foi descrito em registros históricos como tendo sido tão valiosos quanto joias de ouro ou preciosas. Assim, usá -lo regularmente em Tel Arad provavelmente era de extrema importância.
Implicações para o Estudo das Práticas Religiosas do Antigo Oriente
A identificação da cannabis em Tel Arad abre novas possibilidades para a compreensão dos rituais religiosos do Antigo Oriente Próximo. Até agora, pouco se sabia sobre as práticas cultuais de Judá, especialmente no que se refere ao uso de substâncias psicoativas. A descoberta de cannabis no santuário não só altera nossa percepção das práticas religiosas de Judá, mas também oferece uma nova perspectiva sobre como as culturas antigas utilizavam plantas para fins espirituais.
Pesquisadores, como Shimon Gibson da Universidade da Carolina do Norte, apontam que essa descoberta é uma janela importante para novas investigações sobre a relação entre substâncias psicoativas e a religião no Oriente Médio antigo. A descoberta de Tel Arad pode ser o primeiro passo para entender uma parte esquecida da história religiosa de Judá e de outras culturas contemporâneas.
Conclusão: Uma Nova Perspectiva sobre o Culto Religioso Antigo
A descoberta de cannabis como parte dos rituais religiosos no santuário de Tel Arad revela uma dimensão desconhecida das práticas espirituais do antigo Judá. Com a ajuda de tecnologias modernas de análise química, os pesquisadores conseguiram identificar o uso de cannabis em um contexto religioso, desafiando noções anteriores sobre a religiosidade da região. O estudo de Arie e sua equipe abre novas portas para a investigação de práticas culturais e religiosas que, até recentemente, estavam além do nosso entendimento.
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