O Mistério dos Crânios Decapitados
Por mais de um século, arqueólogos têm encontrado crânios humanos decapitados em diversos locais da Idade do Ferro na Espanha, especialmente em áreas como Puig Castellar e Ullastret, no norte do país. Esses crânios foram, em muitos casos, pregados nas paredes de espaços públicos e em residências, levando os cientistas a questionar o propósito dessa prática. Eles seriam simples troféus de guerra ou relíquias veneradas em rituais sociais? Uma recente análise de sete crânios de 2.500 anos encontrados nesses assentamentos pode finalmente responder a essa questão e revelar mais sobre os mistérios da sociedade ibérica antiga.
O Contexto Histórico da Idade do Ferro na Ibéria
Entre os séculos VI e III a.C., as sociedades ibéricas começaram a estabelecer uma forte conexão com outras civilizações do Mediterrâneo. Esse contato levou não apenas a um aumento nas rotas comerciais, mas também a uma intensificação da violência, com os ibéricos entrando em conflitos frequentes com povos estrangeiros. Esses confrontos e as interações com outros grupos resultaram, em muitos casos, na captura de prisioneiros de guerra, cujos crânios eram frequentemente exibidos em locais públicos como forma de demonstração de poder.

Rubén de la Fuente-Seoane et. para o./Jornal de Ciência Arqueológica Mapas de Ullastret e Puig Castellar.
O Estudo dos Crânios de Puig Castellar e Ullastret
O estudo recente, publicado no Jornal de Ciência Arqueológica, foca em sete crânios descobertos nos assentamentos da Idade do Ferro de Puig Castellar e Ullastret. Os pesquisadores realizaram uma série de análises bioarqueológicas para determinar as origens geográficas dessas pessoas e entender o contexto por trás da exibição das cabeças decapitadas. A pesquisa revelou que muitos desses crânios não pertenciam a moradores locais, mas a estrangeiros, possivelmente prisioneiros de guerra capturados em confrontos.
Crânios de Estrangeiros em Puig Castellar
Dos quatro crânios encontrados em Puig Castellar, três pertenciam a indivíduos que não eram naturais da área. Somente um dos crânios era de uma pessoa local. Esses crânios foram encontrados em um local de grande visibilidade pública, perto da entrada do assentamento. A exposição dos crânios nesse local estratégico sugere que eles foram exibidos como troféus de guerra, como uma forma de exibir o poder e a vitória sobre inimigos derrotados. Segundo os cientistas, a prática de pregar crânios nas paredes de espaços públicos era uma demonstração clara de superioridade e intimidação.

Patrimoni.gencat/FlickrA vista aérea de Puig Casellar.
Crânios Encontrados em Contextos Privados
Em Ullastret, a análise de três crânios revelou um padrão diferente. Dois deles pertenciam a pessoas locais e foram encontrados em estruturas domésticas, sugerindo que esses crânios faziam parte de rituais internos ou homenagens a membros importantes da comunidade. Esses indivíduos poderiam ter sido venerados ou respeitados dentro de suas famílias ou facções sociais. As cabeças decepadas encontradas em contextos domésticos indicam uma prática distinta de exibição, possivelmente associada a rituais sociais e culturais dentro da própria comunidade.
O terceiro crânio de Ullastret, no entanto, pertencente a um estrangeiro, foi encontrado em um poço de enterro. Essa descoberta é interessante, pois sugere que as cabeças de inimigos derrotados poderiam ser armazenadas como troféus, uma prática também documentada entre os gauleses no sul da França.
Características Comuns Entre os Prisioneiros de Guerra
Uma descoberta importante do estudo é que as cabeças de prisioneiros de guerra exibidas em Puig Castellar e Ullastret seguem um padrão homogêneo: todas pertenciam a homens. Além disso, as análises indicam que os crânios não foram escolhidos aleatoriamente, mas sim com base em padrões de mobilidade e diversidade social. Isso sugere que os prisioneiros de guerra exibidos tinham algum tipo de importância estratégica ou simbólica para as comunidades ibéricas.

Albertra/Wikimedia CommonsCrânios de Puig Castellar datando de volta a 300 aC
Implicações para o Entendimento da Guerra e da Violência na Idade do Ferro
As descobertas reveladas pelos crânios expostos nas paredes de Puig Castellar e Ullastret oferecem uma visão única da sociedade ibérica antiga. Elas revelam como a violência e a guerra eram elementos centrais na construção de identidades sociais e culturais durante a Idade do Ferro. A exibição de crânios de prisioneiros de guerra não era apenas uma demonstração de poder, mas também uma maneira de solidificar a posição social e política dentro das comunidades.
Além disso, as diferenças nos contextos em que os crânios foram encontrados indicam que a prática de decapitação e exibição de cabeças pode ter servido a múltiplos propósitos. Enquanto alguns crânios podem ter sido exibidos como troféus de guerra, outros podem ter sido usados em contextos mais religiosos ou sociais, onde o respeito e a veneração também estavam em jogo.
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