A Jornada das Iguanas de Fiji: Como Elas Atravessaram 5.000 Milhas de Oceano por Meio de “Jangadas”
As Iguanas de Fiji (Brachylophus vitiensis), um réptil peculiar que habita as ilhas do Pacífico, sempre representaram um mistério para os cientistas. Como esses animais, originários do hemisfério ocidental, conseguiram chegar a uma ilha distante mais de 1.000 milhas náuticas de terra firme? Um estudo recente propôs uma explicação surpreendente e fascinante: as iguanas podem ter chegado a Fiji há cerca de 30 a 34 milhões de anos, atravessando 5.000 quilômetros de mar aberto sobre “jangadas” de vegetação ou árvores arrancadas, flutuando livremente no oceano.
A teoria do “rafting”, como é chamada essa hipótese, sugere que as iguanas, em sua jornada, foram levadas pelo vento e pelas correntes oceânicas, atravessando vastas extensões de água. Embora essa ideia possa soar inusitada, os cientistas responsáveis pelo estudo acreditam que essa é a única explicação plausível para a migração das iguanas para as remotas ilhas de Fiji. Eles defendem sua hipótese com base em evidências genéticas, análises de divergência e modelos biogeográficos que sugerem que as iguanas de Fiji têm uma relação estreita com as iguanas do deserto norte-americano.

USGS Uma Iguana Central Fiji com faixas, Brachylophus bulabula.
A Descoberta de uma Relação Genética com Iguanas do Deserto Norte-Americano
O estudo, publicado recentemente nos Anais da Academia Nacional de Ciências, teve início com uma simples e intrigante pergunta: como as quatro espécies de iguanas de Fiji chegaram a esse arquipélago isolado? As iguanas de Fiji pertencem ao gênero Brachylophus, que é distinto das outras iguanas encontradas em regiões do hemisfério ocidental. Ao investigar o DNA das iguanas, os pesquisadores descobriram que elas estão intimamente relacionadas às iguanas do gênero Dipsosaurus, nativas do deserto do sudoeste dos Estados Unidos e do noroeste do México.
De acordo com Simon Scarpetta, o principal autor do estudo e professor assistente de ciências ambientais na Universidade de Bolonha, “nossas análises de dados genéticos, datação de divergência e modelos biogeográficos descobriram que as iguanas de Fiji estão mais intimamente relacionadas às iguanas do deserto norte-americano”. Além disso, as análises indicaram que a separação entre esses dois grupos de iguanas ocorreu entre 31 e 34 milhões de anos atrás. Isso sugere que, no passado, as iguanas de Fiji e as do deserto norte-americano eram parte de um mesmo grupo, e algo ocorreu para que elas seguissem trajetórias evolutivas diferentes.

Simon Scarpetta e Jim McGuire. Um mapa mostrando as várias maneiras pelas quais as Iguanas podem ter chegado à Fiji Millions de anos atrás.
Depois de ler sobre como as Iguanas podem ter “jangado” da América do Norte para Fiji, descubra a história de como Thor Heyerdahl atravessou o Pacífico em uma balsa de madeira para provar que as pessoas antigas poderiam ter feito o mesmo. Ou observe 24 exemplos hipnotizantes de camuflagem animal.
A Formação de Fiji e o Papel das Correntes Oceânicas
É importante notar que o arquipélago de Fiji foi formado há cerca de 34 milhões de anos por atividade vulcânica. Esse período de formação coincide com a datação da divergência entre os dois grupos de iguanas, o que sugere que as iguanas de Fiji podem ter chegado ao arquipélago enquanto ele ainda estava emergindo das profundezas do oceano. Nesse contexto, a teoria do “rafting” ganha mais força. Iguanas que viajaram sobre grandes blocos de vegetação ou troncos de árvores arrancados pelas correntes oceânicas poderiam ter encontrado um novo habitat nas ilhas recém-formadas de Fiji, um lugar ideal para se estabelecerem.
Esse fenômeno de migração, embora inusitado, já foi observado em outras regiões. As iguanas do Caribe, por exemplo, também são conhecidas por migrarem através de “jangadas” de vegetação. Além disso, há suspeitas de que o “rafting” tenha sido a chave para a migração das iguanas da América Central até as Ilhas Galápagos, onde a evolução de novas espécies aconteceu. O estudo sugere que algo semelhante pode ter ocorrido em Fiji, com as iguanas da América do Norte enfrentando as perigosas águas do Pacífico para alcançar as ilhas.
A Viabilidade da Viagem: Por Que o “Rafting” é Possível para as Iguanas
Uma das questões centrais desse estudo é a viabilidade de uma viagem tão longa, de 5.000 quilômetros, em um ambiente hostil como o oceano aberto. Não é fácil imaginar um lagarto sobrevivendo por meses, sem comida ou água, em uma balsa improvisada. No entanto, os pesquisadores apresentaram argumentos convincentes para apoiar a ideia de que as iguanas seriam perfeitamente capazes de sobreviver a essa jornada.
Scarpetta e sua equipe apontam que as iguanas são grandes e herbívoras, características que as tornam adaptadas para longos períodos sem alimento. Elas podem sobreviver à desidratação e à fome por tempos consideráveis, o que as torna ideais para uma viagem de rafting no mar. Além disso, se as iguanas estivessem flutuando em troncos ou vegetação, elas poderiam ter se alimentado de partes da vegetação ou da madeira, o que poderia ajudá-las a suportar a jornada.
Embora o percurso tenha levado meses, Scarpetta sugeriu que simulações de viagens anteriores indicaram que a jornada poderia ter durado entre 2,5 meses a 12 meses. Para uma iguana, que possui uma tolerância considerável a altas temperaturas e à falta de água parada, essas condições poderiam ser enfrentadas de forma viável. “Se você tivesse que escolher um vertebrado para sobreviver a uma longa viagem em uma balsa através de um oceano, as iguanas seriam uma ótima opção”, afirmou Scarpetta.
Outras Teorias sobre a Migração das Iguanas de Fiji
Enquanto a teoria do rafting parece ser a explicação mais provável, outras hipóteses também foram consideradas pelos pesquisadores. Uma delas é a ideia de que as iguanas de Fiji pertencem a um grupo extinto de répteis, mas essa teoria foi descartada quando os pesquisadores determinaram que as iguanas de Fiji estão geneticamente relacionadas às iguanas do deserto norte-americano. Outra hipótese sugeria que as iguanas teriam atravessado as terras das Américas para a Ásia ou Austrália, antes de seguir para Fiji, mas isso também foi descartado, pois as condições climáticas da época eram muito frias para que iguanas tropicais sobrevivessem a uma viagem dessas. Além disso, não há evidências fósseis que sugiram que as iguanas já habitaram o hemisfério oriental, além de Fiji e Tonga.
Com essas considerações, a ideia de que as iguanas realizaram uma viagem de rafting se mostra como a explicação mais sólida. A sobrevivência delas ao longo dessa jornada, por mais improvável que pareça, é totalmente plausível, dada a resistência dessas criaturas às condições extremas do oceano.
Conclusão: Um Mistério Resolvido com “Rafting”
Embora a teoria do rafting para explicar a migração das iguanas de Fiji possa parecer excêntrica à primeira vista, ela tem uma base científica sólida. As iguanas são animais resilientes e adaptáveis, capazes de suportar viagens longas e desafiadoras, flutuando em jangadas de vegetação por vastos oceanos. Esse estudo não só esclarece um dos maiores mistérios sobre a fauna das ilhas Fiji, mas também nos ajuda a entender mais profundamente os mecanismos de dispersão e migração de espécies em tempos pré-históricos.
Essa descoberta sobre as iguanas de Fiji também nos leva a refletir sobre outros exemplos fascinantes de migração animal e adaptações evolutivas, como a história de Thor Heyerdahl, que atravessou o Pacífico em uma balsa para provar que povos antigos poderiam ter realizado viagens semelhantes. E, para os curiosos, fica o convite para explorar mais sobre a incrível camuflagem animal e como diferentes espécies conseguem se adaptar e sobreviver às adversidades.
Leia também sobre: Livro antigo sobre imperadores romanos se torna best -seller moderno