A Descoberta de Restos Caninos e a História dos “Cães de Brinquedo” na Roma Antiga
A descoberta de restos de um cão de pequeno porte, datando de 2.000 anos, na cidade de Córdoba, Espanha, lança luz sobre uma prática comum entre os romanos: a criação e a adoção de cães de pequenas raças. A nova pesquisa, publicada no Journal of Archaeological and Anthropological Sciences, revela que os romanos já mantinham cães semelhantes aos modernos “cães de brinquedo”, como os pequinês e chihuahua. Esse achado não só desafia as noções sobre os animais de estimação romanos, mas também oferece uma nova perspectiva sobre como esses cães eram tratados.
A Evidência de Cães Pequenos na Roma Antiga
O estudo dos restos de um pequeno cachorro encontrado perto de um cemitério romano na antiga cidade de Córdoba sugere que os romanos adotaram cães de pequeno porte como animais de estimação. O cachorro, que mediria aproximadamente 23 cm de altura (ou 9 polegadas), possuía características físicas semelhantes às das raças modernas de “cães de brinquedo”, como o chihuahua e o pequinês. Embora os pesquisadores não possam confirmar a cor ou a textura do pelo do cão, a sua estrutura óssea e tamanho indicam que ele pertencia a uma raça de pequeno porte, uma prática rara para a época.
A pesquisa revelou que esse cão adulto tinha características micromórficas, sugerindo que ele era uma das primeiras raças pequenas registradas dentro do Império Romano. A descoberta é um dos exemplos mais antigos conhecidos de cães pequenos usados como animais de estimação, uma prática que se tornaria comum em épocas posteriores.

Martínez Sánchez et al. Os fósseis do cão romano revelam sua pequena estatura e uma dieta saudável semelhante aos seus proprietários.
Rituais e Sacrifícios: O Papel dos Cães na Cultura Romana
Ao contrário dos cães modernos, que são principalmente associados à companhia e ao cuidado, na Roma Antiga, muitos cães eram também usados para fins práticos, como caça ou guarda. Além disso, em várias culturas antigas, incluindo a romana, os cães eram frequentemente sacrificados em rituais religiosos. O caso desse cão específico indica que ele pode ter sido sacrificado, possivelmente como parte de um rito religioso, uma prática conhecida entre os romanos.
Os arqueólogos descobriram que o pescoço do cachorro estava deliberadamente quebrado, o que sugere que ele foi sacrificado após a morte repentina de um membro da família. Os romanos acreditavam que o sacrifício de cães poderia ser uma forma de homenagear as divindades do submundo, além de ajudar a adiar a morte iminente, prática conhecida na época. No entanto, o fato de o cachorro ter sido mantido como animal de estimação antes do sacrifício indica que ele também tinha um valor afetivo para seus donos.

Martínez Sánchez et al. Os ossos caninos são a evidência mais antiga de um pequeno cão raça existente na época dos romanos.
Cães de Estimação e o Comércio de Animais Exóticos
Uma descoberta interessante durante a pesquisa foi que o cão de brinquedo encontrado não parece ter se originado na região onde foi descoberto. Segundo os pesquisadores, a raça provavelmente foi trazida de uma região distante, possivelmente de áreas do Império Romano no Oriente. Esse fato sugere que os romanos estavam envolvidos em um comércio de longa distância de cães de pequeno porte, como parte de sua paixão por animais exóticos.
Martínez Sánchez, um dos arqueólogos responsáveis pela pesquisa, sugeriu que esse comércio de cães poderia ter sido uma extensão do hábito romano de adquirir e transportar animais exóticos, como avestruzes e elefantes, para seu entretenimento e exibição pública. Esse tipo de comércio de animais pode ser comparado ao hábito moderno de colecionadores ricos manterem animais exóticos, uma prática que ainda persiste em muitas partes do mundo.
A Dieta e o Comportamento dos Cães de Estimação
Analisando os dentes do cachorro encontrado em Córdoba, os cientistas concluíram que o animal provavelmente compartilhava uma dieta semelhante à de seus proprietários. Isso sugere que ele era mantido como animal de estimação e tratado com cuidado, algo que os romanos não faziam apenas com cães de trabalho, mas também com seus cães de companhia. Esse aspecto do cuidado canino na Roma Antiga reforça a ideia de que os cães eram considerados membros valiosos da família, muito além das simples utilidades práticas.
O fato de o cachorro ter sido encontrado grávida também é significativo, sugerindo que ele provavelmente tinha um companheiro, o que indica que a raça de cães de brinquedo pode ter sido bem estabelecida no Império Romano, com práticas de criação cuidadosas para manter essa linhagem de cães pequenos.
Cães de Brinquedo: Uma Tradição Duradoura
A descoberta dos restos desse pequeno cão romano reafirma que a relação entre humanos e cães de estimação remonta a milhares de anos. Os “cães de brinquedo”, uma categoria de cães pequenos e compactos que continuam populares hoje em dia, já estavam presentes na Roma Antiga. Essa descoberta acrescenta uma camada importante à nossa compreensão de como os romanos valorizavam seus animais de estimação, algo que pode ter influenciado as práticas de criação de cães até os dias de hoje.
A pesquisa sobre esses cães de brinquedo da Roma Antiga não só ajuda a esclarecer a história das raças de cães, mas também oferece uma visão fascinante da vida cotidiana e dos valores culturais dos romanos. Essa descoberta mostra que, embora os cães de brinquedo modernos possam ser vistos principalmente como animais de companhia para a elite, já eram considerados animais de estimação e objetos de afeto há mais de dois mil anos.
Leia mais sobre:

Yew Fortingall: A Árvore de 5.000 Anos Sob Ameaça de Turismo Imprudente