Uma pintura de cavernas descoberta no sul de Sulawesi, Indonésia, pode reescrever a história da arte figurativa, desafiando a ideia de que a Europa é o berço das primeiras representações humanas
A Descoberta de Sulawesi: Uma Nova Perspectiva sobre a Arte Figurativa
A história da arte rupestre sempre foi dominada pela ideia de que as primeiras pinturas figurativas surgiram na Europa. No entanto, uma recente descoberta no sul de Sulawesi, Indonésia, desafia essa suposição. Arqueólogos liderados por Maxime Aubert e Adam Brumm descobriram uma pintura de caverna que pode ser a cena mais antiga de caça registrada até hoje, com mais de 44.000 anos.
A pintura, que retrata porcos selvagens e um pequeno búfalo conhecido como Anoa, além de figuras humanoides com características animais, foi encontrada em uma caverna de difícil acesso. As imagens mostram essas figuras caçando os animais, e algumas delas possuem caudas e focinhos, sugerindo uma representação mítica ou sobrenatural. Para os pesquisadores, a descoberta é uma prova de que a tradição da pintura figurativa não começou na Europa, como se pensava.

Fio Maxime Aubert/PA
Determinando a Idade da Pintura
Para determinar a idade da pintura, os cientistas usaram um método inovador: a análise de calcita “pipoca” que se acumulou sobre a pintura ao longo dos milênios. Medindo a quantidade de urânio radioativo presente no mineral, os pesquisadores conseguiram datar a pintura com precisão. Eles descobriram que a calcita no porco selvagem começou a se formar há pelo menos 43.900 anos, enquanto a calcita em dois dos ANOAs remonta a mais de 40.900 anos, confirmando que a pintura foi criada em um período extremamente antigo.
Essa técnica de datação é crucial, pois permite aos pesquisadores estabelecer com mais segurança a antiguidade da arte rupestre. Embora seja desafiador datar pinturas feitas com materiais como carvão, que podem ter se formado muito antes da própria obra de arte, a calcita oferece uma maneira confiável de determinar a idade da pintura.

Alamy. As cavernas Lascaux no sudoeste da França apresentam cenas narrativas claramente em arte rupestre datada de cerca de 17.000 anos atrás.
Mudando a História da Arte Figurativa
Até agora, muitas das pinturas rupestres mais antigas conhecidas foram encontradas em cavernas europeias, como as de Chauvet, na França, e El Castillo, na Espanha, datadas de 30.000 a 40.000 anos. A descoberta em Sulawesi, entretanto, desafia a ideia de que a arte figurativa teve sua origem na Europa. Alistair Pike, arqueólogo da Universidade de Southampton, comenta: “Sempre se presumiu que a tradição da pintura figurativa surgiu na Europa. Isso mostra que a tradição não tem suas origens na Europa.”
Além dessa cena de caça, outras descobertas de pinturas rupestres em Sulawesi e Bornéu também indicam que essas regiões podem ter sido um centro de criação artística muito antes do que se pensava. Até o momento, pelo menos 242 cavernas ou abrigos em Sulawesi foram identificados com imagens de arte rupestre, alguns datando de períodos anteriores à Era do Gelo na Europa.
A Conotação Mítica das Figuras
O mais intrigante sobre a pintura de Sulawesi não é apenas sua antiguidade, mas também a presença de figuras humanoides com traços animais, conhecidas como “thrianthropes”. Esses seres, com características híbridas, podem sugerir que os primeiros humanos da região de Sulawesi não apenas observavam a natureza, mas também a interpretavam de forma mitológica ou sobrenatural. Embora os cientistas não saibam exatamente o significado dessas figuras, elas oferecem uma janela fascinante para a maneira como os primeiros seres humanos podiam imaginar o mundo ao seu redor.
Ainda há algum debate sobre a antiguidade das figuras humanoides, já que a calcita não foi encontrada diretamente nas representações. Alguns cientistas sugerem que esses “thrianthropes” possam ter sido adicionados à pintura em um momento posterior, talvez até 10.000 anos depois. Contudo, Maxime Aubert acredita que as marcas e cores das figuras sugerem que foram feitas na mesma época que o restante da pintura.
O Impacto da Descoberta para a Arqueologia
A descoberta em Sulawesi é uma prova de que as origens da arte figurativa e das primeiras representações humanas podem ser muito mais complexas do que se pensava anteriormente. Ela abre novas possibilidades para a arqueologia e a compreensão dos primeiros humanos, mostrando que a arte rupestre pode ter surgido simultaneamente em várias partes do mundo, e não apenas na Europa.
Com a pesquisa em andamento, os arqueólogos esperam descobrir mais sobre essas primeiras representações e como elas se relacionam com as sociedades humanas primitivas. As futuras descobertas em Sulawesi e em outras partes da Ásia poderão mudar ainda mais a maneira como entendemos a história da arte e da humanidade.
Conclusão: A História das Primeiras Imagens
A pintura de Sulawesi não é apenas um exemplo extraordinário da arte rupestre; ela também desafia a visão tradicional de que a Europa foi o berço da arte figurativa. Com mais de 44.000 anos, essa cena de caça oferece uma nova perspectiva sobre os primeiros passos da humanidade em representar o mundo ao seu redor. O estudo das cavernas em Sulawesi, junto com outras descobertas na região, poderá revelar muito mais sobre a criatividade e as crenças dos primeiros seres humanos, bem como as origens da arte.
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